quarta-feira, maio 10, 2006

E... Corta!

Mas che barbaridade de tarde enjoada.

Pra minha sorte, Elisa está ao meu lado sem o moleque.

Fico meio desajeitado com a maneira que ela me trata às vezes, me faz sentir um piá quando me convida pra tomar uma bebida e, sabendo da minha situação, me olha com aquele jeito de patroa quando tá pagando a conta.

A conheci na biblioteca, ela lia um livro sobre plantas enquanto eu fingia procurar um dicionário de inglês.

Agora, trinta e nove dias depois, estamos indo àquele bar que costumávamos ir aos sábados...

Hoje é sexta-feira!

Essa mudança na nossa recente rotina provavelmente aconteceu por causa da Naná. A conheci antes de Elisa, numa dessas festas que as pessoas deixam de comer camarão em casa só pra ver o que e quem estaria lá. Naná me beijou e não quis meu número.

Sim... como todo homem que se preste, eu tomei o caminho mais fácil: Elisa adora me controlar. E aqui, sentado na frente da Elisa numa sexta-feira ao invés de um sábado, uma idéia bonita de Naná soprou entre meus olhos e a cabeça morena dela. Naná me faz evaporar na direção da estrela mais distante quando toca minhas costas com seus longos dedos finos e também me faz sucumbir ao lugar mais escuro do seu corpo quando beija segurando-me pelos cabelos...

- Vamos?
- Sim... sim, vamos. Mas eu pago a conta hoje.

Elisa pareceu surpresa e não recusou a oferta. Levanto-me e... lá está Naná. Alva e brilhante, encostada na porta, me olhando e dando forças para prosseguir com a sua pequena idéia bonita mas, a cada mesa que contorno em direção ao caixa, essa força se esvaece com a visão que tenho das sedosas madeixas de Elisa, ondulando junto às suas ancas. Além delas, já até ganhei a confiança do guri... e isso me custou várias tardes fingindo ser um pônei na casa da mãe da Elisa.

Cristo! Tenho que ser homem!

- São 18 reais.

Tenho que quebrar o encanto. Passo a nota de 20.

- Seu troco.

A voz do senhor sôou como uma dádiva, e até Naná não pode conter sua emoção. Procuro o rosto de Elisa e ela, que já absorveu a imagem, fala antes que eu abrisse meus lábios:

- Tenho que ir pra casa, ajudar o João Pedro a fazer o tema de Ciências.

Ela me dá um último beijo na testa e sai leve pela porta.

Naná me olha e eu pego suas mãos para beijar. Ela sorri seu sorriso de princesa e me leva ao seu lugar, transformando-me em rei ao me fazer perceber que, quando estamos a sós, eu apenas a faço sentir um pouco mais velha, como toda mulher feita como ela deve quando está prestes a fazer um jovem homem como eu ficar um pouco mais sábio.