A Margarida chegou em casa e ligou a TV. Uma garota ridícula estava cantando num programa ridículo e ela deixou a TV ligada, pra fazer um barulho. O marido, imprestável, já estava dormindo e isso a fez ir para a cozinha.
A Rosa não tinha feito as compras, então as únicas coisas que estavam na geladeira era uma margarina pela metade do pote, um pé de alface meio murcho e nem um cálice de vinho na garrafa. Ela pegou a garrafa, derramou o que tinha dentro do copo e o completou com uma pedra de gelo bem grande, afinal tinha pouco vinho e fazia um calor tropicalíssimo.
Ela se deitou em frente à TV, ansiosa por um filme que prestasse. Tomou os goles bem devagar. Enquanto isso, se viu grudada ao controle remoto sem poder sobre a programação dos canais e assim se tocou que esse era o perfeito sinônimo da vida que ela estava levando. Se sentiu mais vazia do que nunca e, naquela hora, se tornou devota de Baco.
Assim sempre estaria cheia de alguma coisa. Assim sempre estaria cheia de alguma esperança. Assim sempre estaria cheia de valor, mesmo que fosse só o valor da lembrança do sentimento mais puro que já fora presenteada: a amizade de sua melhor amiga, Violeta.