sexta-feira, abril 07, 2006

Passos

Muito mais simples era o amor, pra ele, quando era criança.
Chegava a hora do recreio, gastava toda grana do lanche
em pirulitos que ia distribuindo esperançosamente a todas meninas.
Pra não parecer tão babaca, dava com muito mau gosto a
alguns meninos também.
Sem chamar muita atenção, chegaria no grupinho lá do canto
onde sua adorada estava.
Os códigos eram muito simples.
Se estivesse com sorte, ela ofereceria um teco do doce que ganhou
a ele, com a boba desculpa do... agradecimento.
Ele ficaria extasiado de pôr sua boca naquele restinho de saliva.
Pronto.
O selinho seria inevitável na hora de correrem pra formar a fila
e sentariam juntos na aula de ciências.
Sonharia com ela à noite e torceria para encontrá-la
no caminho da escola.

Complicado parece ser o amor, pra ele, agora.
Chega em casa à noite, dá ração pro Bob, liga o monitor e
começa a digitar coisas vazias sobre a vida na esperança de que alguém ache interessante.
Conheceu essa garota ao acaso.
Agora se sente tonto toda vez que está ao lado dela e,
talvez por criancice,
não consegue decidir o que fará da vida.
Se ela tem outro ou não, ele não se prenderia a alguém tão... facilmente.
Quer aproveitar a liberdade.
Poderia também convidá-la para jantar no japonês porque
no fundo ele quer se render e a garota
muito gosta dele e das tolices que ele diz e teima em escrever.
Mas ele finge não perceber.
Simplesmente vai dormir e reza pra que tudo passe logo.



-17.01.2006-

2 comentários:

A.A. disse...

O sujeito está lendo uma coisa dessas, de repente pára e coça a cabeça, vira para o lado para ver se alguém está olhando, coça o nariz, pisca várias vezes... E pensa: "é comigo, será?" Fica envergonhado. "Será que ela tá falando de mim?!" Mas o sujeito não fica sabendo. Seria melhor que, como as crianças, não se usassem códigos tão complexos.

Néfer Kroll disse...

(Risos)