– Tenho que deixar a minha filha com a Senhora.
A jovem mãe faria uma grande viagem. Para onde, ninguém jamais saberia, mas o fato é que ela estava prestes a deixar sua menininha nos braços daquela Senhora que tinha rosto magro e cabelos negros como o vestido de muitos panos que estava usando. A criança não tinha três meses e, com aquela touquinha branca, parecia ser a pessoa mais feliz com a situação. Fitando-a, a Senhora sussurou:
– Claro.
Seu sorriso foi mórbido. As duas mulheres começaram a andar em direção a casa e pararam embaixo de uma parreira, para combinar. Ela entregou a menina, sem vontade, e a Senhora mais uma vez deu um dos seus sorrisos, agora com a menininha nos braços.
– Muito bem – disse a jovem mãe – agora a Senhora já pode me mostrar quem você é... na verdade.
Uma nuvem de pó brotou do chão, circundando com tufos de ar aquela estranha Senhora com o bebê. Da sua face caíra o mau e ela se tornou um azul preto e branco. A jovem mãe, aliviada, até aparentou ser ainda mais jovem, tamanho peso que fora tirado das linhas do seu rosto:
– Eu sempre soube quem a Senhora é. Acontece que eu não tenho opção.
Aquela Senhora, um pouco irritada com suas palavras, estava se deliciando com a menininha dos seus braços. Arrancou um grão verde de uva daquele parreira de verão com seus dedos finos e ofereceu à criança. Esta, olhando fixa em seus grandes olhos azuis, chupou o grão junto aos dedos da mulher. Sorria a valer. E Senhora diz:
– Ela ficará bem.
A jovem mãe acreditou naquelas palavras. Se a Senhora conseguia fazer um bebê comer uvas verdes, então tudo correria bem, sim. Deu as costas às duas e caminhou em direção do portão... sete... doze passos...
– Mãe!
Ela se virou e viu aquela moça. Linda. Cabelos castanhos e olhos amendoados. Um cachorro, preto e branco, começou a latir incessantemente do lado de fora do portão atrás da jovem mãe, que parecia muito calma:
– Quer conhecer seu pai, filha?
O moço estava lá fora, junto aquele cachorro preto e branco. Olhava orgulhoso para a moça, com os olhos tão apertados quanto o chapéu marrom entre suas mãos. De algum modo, todos pareciam ter a mesma idade. Cheiro de chuva já se aproximando sob o céu cinza e a Senhora estava ainda aonde a jovem mãe antes lhe dera as costas, portando uma expressão de trabalho bem feito... satisfação. A moça responde em suave tom:
– Meu pai?
– Sim. Quer conhecê-lo?
A filha puxou a mãe pelo braço e começou a nadar para perto da Senhora preto e branco e, baixinho, disse:
– Meu pai... hoje não.
As duas se olharam. O moço entrou no carro e, triste, foi. A Senhora desaparecera e só nesse momento a jovem mãe notou aqueles dois pontos, agora parando de sangrar, no pescoço da sua filha. Pensou “Minha única filha... mordida por uma Vampira!”.