domingo, setembro 16, 2007

Fim com ponto

Vou deixar como pontos finais. Os pingos dos i's pingaram em descompasso tão grande! Eu quis resgatá-los do chão, mas vou deixá-los aonde eles caíram... vou deixar esses pingos finais da chuva de dois anos sobre mim bem alí, onde eles exercem sua perfeita função.

quinta-feira, julho 12, 2007

A Morte de Violeta

Margarida tinha até tomado rumo na vida:
Ela começou a conviver com as flores,
assistia jardins e plantava árvores
mais eternas que ela mesma.

Tudo isso teve grande força só quando
tinha sobre si a visão, o olhar perspicaz
e também questionador de sua amiga Violeta,
sempre presente com um grande sorriso.

Mas Violeta morreu ontem, então o que será dela?
Subindo escadas Violeta entregou-se a má sorte,
deixando para trás a aposta de Margarida:
Teve um derrame, uma queda... que desgraça.

Hoje Margarida voltou a se lembrar do marido,
e da comida que tem que dar pro cachorro.
Desde o início ela sabia que a Violeta iria morrer.
Violetas raramente dão flores mais que uma vez.

Margarida agora viverá bem, cultivando apenas flores do campo,
por que são mais parecidas com ela.

domingo, julho 08, 2007

O Pior Sonho

De que são feitos os bons sonhos? Toda imagem colabora, sim. Toda imagem bonita ajuda muito. O bom sonho fica grande e mais brilhante. De que se poderia viver se, no seu sonho, não existisse o belo? A bela? Tudo que o faz realmente suspirar? Se sentiria mal, não iria querer dormir. Todos querem dormir. A entrega ao sonho é coragem. Coragem pra sonhar. Mas sonhar é difícil quando não se pode mais querer adorar.

Sonhar custa muito. Antes, custava nada. Cada um vivia seu sonho em segredo, tudo acontecia em segredo e o que era descoberto... Que escândalo! Hoje, temos algum escândalo? Não mais. Mesmo. Normal é ser só, só com seu sonho e se fechar para ter coragem de sonhar bem. Sonhar não mais com o que deseja, mas com o óbvio, que é pra não se machucar. Nada é dor já que é implicante escândalo se deixar doer.

Eu agora sou covardia. Eu só quero o pior sonho. A tristeza já não entristece tanto e cada palavra amiga que me levaria ao bem sonhar já não existe. Não quero mais doer, não quero mais tudo, já que o que havia de belo pra mim, que era sonho, nem sonho mais é. Deixaria de viver para tê-lo realidade, começaria guerras e passaria a sonhar na rua, que nunca foi o meu lugar. Mas pelo meu sonho, nela eu não me negaria em estar.

O pior sonho para tudo que assim há. Nada mais. O costume de doer por um sonho não quero que jamais exista. O pior sonho não dói, nunca vai doer. Ele é o que cada um pode esperar no que há de pior, pois inferior não ficará. Não ficará. Assim o pior sonho é alegria. Medida. Sonharíamos e acordaríamos sabendo que dali em diante não se pode ultrapassar. E esse sonho todo é só o não estar ao lado do que de mais belo nos há.

(05.12.2006)

domingo, julho 01, 2007

Pra mim

(suspiro)

Andei pelos nossos corredores antigos.

Vi ela pensar:
"- Que tu acha disso?"
E ela mesma responde:
"- Acho bom."

Mas essas foram tuas palavras, não dela.
São as tuas maneiras de agir, entende?

São coisas que eu nunca quis mudar.
São coisas que eu sempre quis pra mim.

quarta-feira, junho 13, 2007

Sorte de Hoje

"Venda as suas idéias – elas são completamente aceitáveis".




(...)

– Eu posso concordar com o capitalismo, mãe?
– Mas é claaaaaro!
– Humnn... tá então.
– Eu quero viajar num transatlântico!
– Tá. Acho que eu quero também. Mas alguém pagaria pelas minhas idéias, será?
– Eu te disse que tu deveria ter feito secretariado...
– Mas secretária pensa?

Sua amiga Violeta

A Margarida chegou em casa e ligou a TV. Uma garota ridícula estava cantando num programa ridículo e ela deixou a TV ligada, pra fazer um barulho. O marido, imprestável, já estava dormindo e isso a fez ir para a cozinha.

A Rosa não tinha feito as compras, então as únicas coisas que estavam na geladeira era uma margarina pela metade do pote, um pé de alface meio murcho e nem um cálice de vinho na garrafa. Ela pegou a garrafa, derramou o que tinha dentro do copo e o completou com uma pedra de gelo bem grande, afinal tinha pouco vinho e fazia um calor tropicalíssimo.

Ela se deitou em frente à TV, ansiosa por um filme que prestasse. Tomou os goles bem devagar. Enquanto isso, se viu grudada ao controle remoto sem poder sobre a programação dos canais e assim se tocou que esse era o perfeito sinônimo da vida que ela estava levando. Se sentiu mais vazia do que nunca e, naquela hora, se tornou devota de Baco.

Assim sempre estaria cheia de alguma coisa. Assim sempre estaria cheia de alguma esperança. Assim sempre estaria cheia de valor, mesmo que fosse só o valor da lembrança do sentimento mais puro que já fora presenteada: a amizade de sua melhor amiga, Violeta.

terça-feira, maio 29, 2007

A Saga do Café

... Aí começou com um café
bem tomado.

Durante tempos,
a xícara estava alí...
bem vazia.

Indo e voltando,
no mesmo lugar,
bem ou mal tomando.

Tudo pareceu terminar hoje,
bebida mal tomada,
derramada,
copo vazio...

Mas não é bem assim.

De alguma forma,
essa saga vai continuar.
O que mudará sobre ela
é só o olhar.

sábado, maio 26, 2007

Jantar em Família

- Viu as pinturas?
- Aham, bem legais.



(...)



- Que pinturas?
- Umas que eu mandei pra ela.
- De quê que é?
- Parecem fotografias, mãe.


(...)


- Só tem essa pizza?
- Não, tem outra no forno.

quem sou eu:

.. . . . . . do . . . . ler
. . . apago . . .. . . ..
. . nada, . . ... . . . ..

sábado, maio 12, 2007

No Escuro (2ª versão)

Queria poder entrar numa
sala escura
e simplesmente te tocar como
se fosse aquela primeira coisa que
toquei na minha vida

(com meus lábios)

Esse momento seria como
o qual sempre esperei por,
durante minhas
horas passadas em vão

Fazer isso sem te ver.
Fazer isso sem ter te visto.
Fazer isso apenas sentindo

(te sentindo nas
minhas mãos)

Foto número 9

Lê minha sorte e
diz que meu maior sonho
vai se realizar.

Foto de número nove.

O mundo de números
imersos em azul e azul,
de dois em dois.

Eu vejo o azul alí vazio.

O sono com medo do sonho
parou de se sentir
e não quer cobertor.

Muda ser mutável!
Espalha tua atenção aqui:
faz a dor passar.

Tu não passas.
Não quero mais mundo azul.
Tu não passas.

Quero pra sempre a paz
que me dá
quando respiro teu ar.

sábado, abril 14, 2007

Medo

E eu? Eu sou alguém?
Sou muito mais ou menos do que eu posso imaginar.
Me vês e eu fico olhando para o nada.
Me viro e olho o nada.
Se me vês me dá medo.
Se eu fosse o que tu mais desejas, eu seria mais ou menos.
Mas sabe o que ia acontecer?
Acho que eu não me sentiria mal por ter medo.

Então eu tentei ter coragem.
Os segundos que dessa coragem nasceram, passaram, foram
todos muito mais do que eu poderia ter sonhado acordada!
Eu não te possuí em meus braços no nosso abraço,
mas tu me teves sem querer, como sempre foi,
durante aquele meu precioso raro momento
(que esperaria mais um ano pra vivê-lo com a mesma força).

Eu não consigo te olhar nos olhos!
Eu tenho medo de que isso
faça acontecer o que está acontecendo agora:
escrevo e tenho esperanças.
Porém se eu conseguisse olhar nos teus olhos
(com a coragem que eu inventei)
eu lá poderia ver a verdade...
mas é ela todo o objeto pelo qual
eu alimento esse gigantesco horror.

Já te sei de cor,
já sei o que posso esperar,
meu querido amigável amigo.
Agora eu devo pensar em
qual maneira desse convívio pensado
(e pensado por nós dois, sim senhor!)
eu vou me machucar
mais leve
e poder depois curar
de verdade.



Se Deita

Durante esse espaço
(maior que o tempo!)
que espero pra te rever,
minha esperança travada,
de novo na porta do trem,
vai relutar em não
parecer tristonha quando
conseguir tocar na tua mão.

O sol que nós todos vemos
(sempre o mesmo sol)
já é deitado a essa hora.
Agora pela janela eu sei que
toda vez que ele o faz,
a divisão dele, por nós dois,
é assim ó:

Tu o tens todo
para si
e dois ele é sempre
para mim.

sábado, março 31, 2007

Um livro

Quantas vezes eu vou precisar me sentir assim
para poder compreender?
Muitas vezes penso que de tudo eu já sei
um pouco
mas quando me pego assim, desse jeito,
começo a pensar
que no fundo
eu estou errada.

A solidão é uma vagabunda de luxo,
ela se instala no peito de quem
tem cacife pra sustentá-la.
Apenas as pessoas que insistem
em coisas sem luz
conseguem se deixar levar assim,
desse jeito,
e nem tentam escapar por qualquer
porta que lhes é oferecida.

Muitas teorias começam a brotar,
muitas delas são ótimas,
me fariam seguir em frente e agüentar
todo sofrimento e alegria
que por ventura podessem acontecer.
Mas eu continuo a sonhar
e nem mesmo o pior sonho
parece mais a isso tudo aliviar.

E mais um texto sobre solidão
está sendo escrito por alguém, nesse
mundo que já não tem mais solução.
Sempre é bom pensar que algo está
mudando:
Afinal, isso é apenas um texto, e não
mais um livro
que poderia a mais alguém salvar (ou não).

sexta-feira, março 30, 2007

Fazenda

Uma vez eu pisei num sapo.
Que susto!

quarta-feira, março 28, 2007

Texto Romântico (parte 2)


Ela queria ter sorte naquela noite. Pulinho e pulinho com blusa rodada e coberta de pérolas! Como ela ficou bonita... colocou um perfume bem cherôso e arrumou o cabelo como não fazia há meses, pois o passeio tinha que dar certo: a mocinha queria arranjar um namorado. Moreno, alto e inteligente, pois ela era bonita, alta e inteligente.

Ela chegou na festa muito esperançosa, sempre quis ir a um lugar como aquele com suas amigas. Os antigos namorados estavam quase todos lá e ela nem ficou deprimida, se achando um espantalho, como sempre acontecia... por que naquela noite ela estava com esperanças. Bem humorada, um amor de menina. Ela merecia o melhor.

Aí um moreno lindo, com um nome lindo como o dela (e que aparentava ser inteligente o suficiente) se aproximou sob um céu estrelado e começou a agir como todos os meninos agem quando se apaixonam: implicava com o cabelo, com o sapato e até com o som dos “ês” que ela pronunciava - “não é 'iscada', é 'escada' que se fala.” A convidou para uma dança e eles se beijaram em meio a uma massa delirante de calor.

Como se deram bem! Finalmente ela tinha achado um mocinho que tinha convicção do que queria da vida - “afinal, não é todo dia que me pedem o telefone.”

Realmente ele tinha muita convicção do que queria:
- Vamos estreiar a minha kingsize bed... babe?
- Mas eu sou uma moça de respeito!
- Vamos tomar café da manhã com biscoitos e geléia de morango.
- Não posso.
- Então volta pra casa com tua amiga, ela tá precisando de ti. Eu entendo, pode ir.

Ela foi, então, embora. Guardou o papelzinho com o nome e telefone que ele dera a ela com o maior carinho do mundo e, até hoje, está esperando ele se lembrar.



(Janeiro de 2007)

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Sobre estar acordada...

Fé–
Estou até acreditando em Santo, coisa que há tempos eu não fazia.

Identidade–
A estrela que ele marcou em mim ainda está sobre meu ombro esquerdo, leve.

Impressão–
No ar, em que eu nunca voei, perco minhas vistas onde agora há brilho.

Memória–
Frases tão comuns que reduziram-no ao pó do que os outros são agora para mim.

Desejo–
Eu não quero que sumas, eu quero que fiques e que sopres bondade em meu peito.

Atitude–
Segura eu mal seguro a ti. Tênis velhos me fazem sonhar que és persistente.

Temor–
O maior medo de todos é reparar que meus suspiros não são profundos como outrora.


... retira o excesso de esperança.

domingo, fevereiro 11, 2007

Tempo


A tarde estava muito quente.
Deitada, sentiu uma das gotas do seu suor escorrendo da parte de trás do joelho esquerdo para baixo, enquanto assistia pela quarta vez aquele filme na televisão. Ela gosta de rever os filmes que adora. O sofá já estava úmido. Ela odeia o verão.
Muito bem.
Ela foi à varanda e acaba de sentir no seu antebraço esquerdo o primeiro pingo da tempestade que, para alívio do seu calor, está se formando e ela continua, mesmo assim e também porque gosta de se molhar, sentada naquela cadeira de plástico tentando arranjar um meio real de se aproximar de quem ela tanto deseja.
Mas ela é covarde.
Ao invés de apenas dar fim nisso tudo e ir encontrá-lo, ela continua gastando os seus segundos o procurando nas mínimas coisas que vê, escuta, sente... enfim.
Problemas de sonhadores.
Agora mesmo está tocando uma música de uma bandinha que ambos gostam. A rádio é a favorita dela mesmo antes de conhecer aquele merda. Pra completar, ela encara isso como um dos sinais cabalísticos do destino. Tola.
Ela pára e sente a música.
Sente como se fosse as mãos dele encostando em sua face e ombros.
Se arrepia.
Depois, olha para o céu e vê no cinza das nuvens um dos versos que, segundo somente ela, foi inspirado no que eles viveram naquela terça-feira. Vê o vento chicoteando as ervinhas do campo ao lado da sua casa, um terreno vazio. Define naquele momento que quando a chuva começar, ela vai sair andando pelo asfalto à procura do amor da sua vida esperando, ironicamente, que ele esteja com
um guarda-chuva e
uma cartela de Benegripe.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Estrilo

– Tenho que deixar a minha filha com a Senhora.

A jovem mãe faria uma grande viagem. Para onde, ninguém jamais saberia, mas o fato é que ela estava prestes a deixar sua menininha nos braços daquela Senhora que tinha rosto magro e cabelos negros como o vestido de muitos panos que estava usando. A criança não tinha três meses e, com aquela touquinha branca, parecia ser a pessoa mais feliz com a situação. Fitando-a, a Senhora sussurou:

– Claro.

Seu sorriso foi mórbido. As duas mulheres começaram a andar em direção a casa e pararam embaixo de uma parreira, para combinar. Ela entregou a menina, sem vontade, e a Senhora mais uma vez deu um dos seus sorrisos, agora com a menininha nos braços.

– Muito bem – disse a jovem mãe – agora a Senhora já pode me mostrar quem você é... na verdade.

Uma nuvem de pó brotou do chão, circundando com tufos de ar aquela estranha Senhora com o bebê. Da sua face caíra o mau e ela se tornou um azul preto e branco. A jovem mãe, aliviada, até aparentou ser ainda mais jovem, tamanho peso que fora tirado das linhas do seu rosto:

– Eu sempre soube quem a Senhora é. Acontece que eu não tenho opção.

Aquela Senhora, um pouco irritada com suas palavras, estava se deliciando com a menininha dos seus braços. Arrancou um grão verde de uva daquele parreira de verão com seus dedos finos e ofereceu à criança. Esta, olhando fixa em seus grandes olhos azuis, chupou o grão junto aos dedos da mulher. Sorria a valer. E Senhora diz:

– Ela ficará bem.

A jovem mãe acreditou naquelas palavras. Se a Senhora conseguia fazer um bebê comer uvas verdes, então tudo correria bem, sim. Deu as costas às duas e caminhou em direção do portão... sete... doze passos...

– Mãe!

Ela se virou e viu aquela moça. Linda. Cabelos castanhos e olhos amendoados. Um cachorro, preto e branco, começou a latir incessantemente do lado de fora do portão atrás da jovem mãe, que parecia muito calma:

– Quer conhecer seu pai, filha?

O moço estava lá fora, junto aquele cachorro preto e branco. Olhava orgulhoso para a moça, com os olhos tão apertados quanto o chapéu marrom entre suas mãos. De algum modo, todos pareciam ter a mesma idade. Cheiro de chuva já se aproximando sob o céu cinza e a Senhora estava ainda aonde a jovem mãe antes lhe dera as costas, portando uma expressão de trabalho bem feito... satisfação. A moça responde em suave tom:

– Meu pai?
– Sim. Quer conhecê-lo?

A filha puxou a mãe pelo braço e começou a nadar para perto da Senhora preto e branco e, baixinho, disse:

– Meu pai... hoje não.

As duas se olharam. O moço entrou no carro e, triste, foi. A Senhora desaparecera e só nesse momento a jovem mãe notou aqueles dois pontos, agora parando de sangrar, no pescoço da sua filha. Pensou “Minha única filha... mordida por uma Vampira!”.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Nickee Coco e a Árvore Invisível

Nickee Coco acordou cedo numa manhã de terça-feira e decidiu ir dar um passeio na plantação de tomates atrás da casa dela. Enquanto ela caminhava pela plantação, ela avistou uma magníficamente alta árvore invisível e decidiu subir nela. Ao descobrir que os galhos cobertos pela folhagem eram tão confortáveis, ela caiu rápido no sono. Ela ainda estava adormecida quando o anoitecer chegou e sua mãe ficou fora de si com o medo. Ela saiu correndo de casa perguntando a todos que ela via se eles tinham visto Nickee ou se sabiam aonde ela estava. Logo a cidade inteira estava apavorada com o desaparecimento da Nickee e eles imediatamente iniciaram a busca.

E então a busca começou.
Todos estavam procurando pela Nickee Coco.
Eles a procuraram pelos topos dos telhados e pelas árvores no parque.
Mr. Temboley até mesmo gritou poço adentro...
"Nickee Coco se você está aí em baixo, dê um grito!"
... mas ele não escutou um grito.
E então a busca continuou...

Todos ainda estavam procurando pela Nickee Coco.
Eles perguntaram ao tocador de realejo gago, na praça,
que disse:
"Não não não não.
Eu não ou-ou-ouvi na-nada.
Mas assim que e-e-e-eu e-es-escutar eu da-da-darei um sinal.
Oh-oh-oh que po-po-pobre miséria".

Durante esse tempo todo Nickee era tomada pesadamente pelo sono,
muito em paz em sua árvore invisível,
comendo mangas em um sonho.
E então a busca continuou...

Durante esse tempo todo Nickee era tomada pesadamente pelo sono,
muito em paz em sua árvore invisível,
sendo caçada por antílopes em um sonho.
E então a busca continuou...

Eles estavam pensando se nunca achariam Nickee Coco.
A mãe da Nickee perguntou a Senhora Colvendom, em prantos:
"Margaret me diga o que em terra eu fiz para merecer perder a minha doce querida?
O que possivelmente eu fiz?"

Muitas semanas passaram e embora algumas pessoas estivessem começando a perder a esperança, eles todos continuaram a procurar e nunca abandonaram Nickee em seus pensamentos. Um dia aconteceu de uma coruja voar por trás da Nickee, ainda adormecida silenciosamente em cima da árvore invisível. Aí ela voltou rapidamente para contar as pessoas da cidade. Depois que um tradutor de corujas foi chamado, a mensagem maravilhosa da coruja foi entendida e toda a cidade alegremente seguiu a coruja até à árvore invisível aonde a pequena Nickee estava ainda caída no sono. Eles todos aplaudiram quando a viram, e Nickee finalmente acordou enquanto eles levantavam ela sobre suas cabeças e marchavam vitoriosamente de volta a cidade aonde eles fizeram uma enorme festa em honra da volta dela, onde eles cantaram esta canção…

“Nós te amamos Nickee Coco
Nós estávamos tão tristes quando pensávamos que tínhamos perdido você
Nickee Coco agora nós estamos tão felizes
por que finalmente
nós te achamos
nós te achamos
nós te amamos”.



_______
"Nickee Coco and the Invisible Tree" - The Gay Parade - Of Montreal
-tradução: néfer kroll-

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Parede Verde - Se algum dia tem que doer, muito, esse dia tem que ser hoje

Não acredito que as palavras ainda possam incomodar tanto, mas eu resolvi ler algumas palavras que eu já sabia que não eram mais só suas, afinal, você está feliz agora. Eu sentei, li e fiz de conta que eu não me importei em ver o quanto você está realizado por estar completo. Invejo, muito, a metade da sua laranja. Ela é muito genial, pois sua metade tem que assim ser, e eu não poderia pensar em outra metade além dela. Vocês foram feitos melhor que queijo e goiabada, se entendem e realizam um ao outro sem precisar de esforço. Bem simples, como deve ser.

Tudo conosco sempre foi muito complicado e o que era fácil não tinha sabor. A sua metade era tão azeda quanto a minha era para você, pois não éramos as metades certas. Precisou você achar a sua doce metade para que eu enxergasse o quanto estaríamos sozinhos se juntos estivéssemos. Eu mal lutei por você e gritei que sim porque eu fui mais complicada. Vocês me fizeram ver que tudo é simples, sim, e eu não vou lhes agradecer por isso. Quero que vocês dêem esse mérito a mim porque eu consegui me livrar de tudo sem que, ao menos, uma das metades estivesse aqui.

domingo, janeiro 07, 2007

Texto Romântico

Vamos continuar fingindo como sempre, todos fingem e eu nunca quis desse jeito.
Nunca quis fingir dessa maneira, nunca quis que tu fingisses dessa maneira.
Atuamos.
No momento, tudo que gostaríamos de ter sido some assim feito nuvem.
Tão inesperado quanto o sol, quando estamos tristes assim. Tão inesperado quanto um final infeliz num filme preto e branco.
Triste assim.
Enfim.
Quem somos nós para decidirmos o que é melhor durante as nossas noites solitárias?
Somos quase inteiramente irresponsáveis com os sentimentos que pensamos que estão dentro daquele vazio que sentimos quando chegamos em casa.
Pensamos ter experiência mas temos incapacidade para decidir.
E todo o ciclo começa novamente.
Renova a esperança, moço.
Que essa que tu pensastes estar nova não passou da sensação que encheu teu tempo.
Que tempo?!
Quanto durou, quanto duraria, o quanto jamais resistiria?
Vamos deixar as coisas mais confusas, faz bem.
É romântico ser assim, confuso.
Digo o que eu quero, não preciso ser pão com manteiga.
E tu:
“Que lindo!”
Por que tu és romântico também... ôh confusão que adoramos.
Adoramos ficar pensando nessas palavras sem sentido que fingimos proferir bem...
Ai como sou romântico!
De acordo com o que me consta, esse tipo de pensamento demora, no mínimo, uma década pra passar. Vamos continuar fingindo que estamos nos anos sessenta, afinal, eles eram tão românticos!
Mas pense bem: temos que ser bons atores.
Se queres ser romântico, de verdade, tens que dar uma vasculhada além do roupeiro do teu avô.
Depois é só fingir, direitinho, quando estiveres bem decidido por alguém.
As pessoas são muito mais do que meros personagens que convivem nesse teu filmezinho de quinta.

sábado, janeiro 06, 2007

Texto Romântico (parte 3)

- Seu filho da puta! Por que tu não me ligou?!

(Ela sempre é rude com as pessoas que ela gosta)

- Poxa! Nem sequer uma mensagem! Por que, então, tu me pediu o número do meu telefone? Pra bonito?!

(A parede tá fazendo cara de “e eu com isso?”)

- Ok, ok... tu me deu o teu número também, eu sei que poderia ligar pra ti e acabar com a minha agonia... Mas e daí, seu merda?! Eu sou machista! E aí?! Não vai me ligar? Que se dane, então! Ah!

(E, gente, ela é a menina mais doce que eu conheço! Não sei o que dá nessa menina que, quando ela começa a criar esperanças a respeito de alguém, se tona grossa, um bicho-do-mato, mesmo. Ela não faz por querer, tadinha...)

- Tu que tem que me ligar...

(Ah, por favor. Que dó. Ela tá alí ajoelhada, com o telefone sob o queixo, toda chorosa sobre os bracinhos, com pinguinhos de água nos zóinhos!)

- Eu quero alguém pra dormir que nem um macaquinho, comigo, à noite...

(Ela olhou pro teto. Ela pensou de novo...)

- Eu quero que tu durmisses que nem um macaquinho, comigo, durante muitas noites...

(Agora um daqueles suspiros dela conseguiu preencher todo o vazio do quarto. E o mais triste é que eles tinham tudo pra terem juntos um futuro, mesmo que breve, muito feliz. Tomei as dores dela agora... que menino bem mal-educado! Nem sequer ligou para dizer adeus...)

- Já sei! Vou fazer uma promessa a Santo Antônio!

(Tadinha. O pior de tudo, mesmo, é ter esperanças).

terça-feira, janeiro 02, 2007

Valentim e Valentia

Hoje eu estava sendo muito valente.
Valentia não me convém já faz algum tempo.
Mas hoje foi diferente:
Acordei valente.

Acordei tão valente que fiquei feliz,
aproveitei o dia para ser boa,
fazer tudo bem feito,
já que a vontade de ajudar veio de dentro.

A minha valentia é de algum modo
meia-irmã de Valentim, o santo,
no seu mais primo significado.
Pois é isso que eu bem quero com mal querer.

A Valentim eu apresento um amigo
e eu fico só os observando, sem poder.
Quão feliz ele tornou-se ao conhecê-lo!
Tão feliz que acaba o querendo só para sí.

Não chio, minha valentia não vai mudar,
jamais esteve dentro de mim bem acordada:
Bandida criou vida própria e agora quer fugir,
ocupar o meu lugar na minha cama.

O único que eu ainda julgava ser só meu!
O único que eu ainda julgava ser só meu.